Pega no telefone e liga-lhe, não
tens nada a perder. Diz-lhe que tens saudades dele, que ninguém te faz tão
feliz, que os teus dias são secos, frios, áridos, como um deserto imenso, sem
oásis nem miragens, sempre que não estão juntos. Pega no telefone e liga-lhe. Se ele não atender,
deixa-lhe uma mensagem. Ou então escreve-lhe um sms a dizer que queres estar
com ele. Não te alongues nem elabores, os homens nunca percebem o que queres
deixar cair nas entrelinhas. Tens de ser clara, directa, incisiva. E não podes
ter medo, porque o medo é o maior inimigo do amor. Cada vez que deixares o medo entrar-te nas tuas veias, ele vai gelar-te
o sangue e paralisar-te os nervos, ficas transformada numa estátua de sal e
morres por dentro.
Já fui
como tu uma sobrevivente à procura de uma luz que me levasse por um caminho com
menos pedras. Às vezes, ficava tão cansada de passar pela vida sozinha que
desmaiava, de repente, assim do nada, só para descansar um bocadinho. Depois
tudo mudou. Mas demorou muito tempo, foi gradual. Não foi um amor à primeira
vista, foi um amor plantado e criado como uma árvore. A vida é uma incógnita,
hoje estás aqui, amanhã podes ficar doente, ou cair-te um piano em cima quando
fores a andar na rua. Ainda há pessoas que atiram pianos pela janela, sabias?
Nunca se sabe como será o dia de amanhã, por isso não percas tempo, pega no telefone e liga-lhe. Tenho a certeza que ele
te vai ouvir, tenho a certeza que ele te vai ajudar, tenho a certeza que ele, à
sua maneira - e é tão estranha a forma como os homens gostam de nós – ainda
gosta de ti. Mesmo que já não te ame, ainda gosta de ti, como tu vais aprender
a gostar dele, quando a vida te obrigar a desistir deste amor.
Ele está longe, mas olha para ti por entre memórias, presentes e flores. À
noite entre sonhos alterados pelo álcool e as drogas leves, tu apareces-lhe na
cama e ele volta a sentir o cheiro da tua pele e volta a amar-te com todas as
suas forças. Ainda que não acredites, tu viverás para sempre nele, tal como ele
vive em ti, na memória das tuas células, num passado que pode ser o teu escudo,
mesmo que não seja o teu futuro.
Pega no telefone e liga-lhe. Fala com
ele de coração aberto, diz-lhe que o queres ver, chora se for preciso, pede-lhe
que te diga se sim ou não. Se for preciso, por mais que te custe, pede-lhe para
escrever a palavra NÃO. Pede-lhe uma resposta para o teu coração. Mais vale
saberes que acabou tudo o que viveres com as laranjas todas no ar, qual
malabarista exausto, sem saberes nem como nem quando elas vão cair. Mais vale chorar
a tristeza de um amor perdido do que sonhar com um oásis que se transformou
numa miragem.
Pega no telefone e liga-lhe. Liga as
vezes que forem precisas até conseguires uma resposta, a paz de uma certeza,
mesmo que essa certeza não seja a que desejavas ouvir. Mas não fiques quieta, à
espera que a vida te traga respostas. A vida é tua, tens de ser tu a vivê-la,
não podes deixar que ela passe por ti, tu é que passas por ela. E quando todas
as laranjas caírem, apanha-as com cuidado, guarda-as num cesto e muda de
profissão. O circo é para quem não tem casa nem país, não é vida para ninguém.
Guarda as laranjas num cesto, leva-as para casa e faz um bolo de saudades para
esquecer a mágoa. E nunca deixes de sonhar que, um dia, tal como eu, vais
encontrar alguém mais próximo e mais generoso, que te ensine a ser feliz, mesmo
com todas as pedras que encontrarem no caminho. Larga as laranjas e muda de
vida.
1 comentário:
q saudades de ler algo teu.....mas assim ate vale a pena esperar...
escreves tao bem, msm dps d tanto tempo.. :) quem me dera :$
força miuda!! terás a tua resposta <3
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