quarta-feira, 23 de julho de 2008

Tinha prometido a mim mesma que nunca mais voltaria a escrever aqui. Tentei apagar definitivamente o blog mas nem disso fui capaz. Talvez porque seja uma das poucas coisas que eu posso dizer que seja mesmo minha, porque é a minha história que está aqui espelhada e essa ninguém poderá alterar. Pode ser alegre, triste, sufocante, deprimente. . . Mas é minha! Ao longo de um ano por muitas coisas passei. Criei este espaço a pedido de uma amiga/irmã e cheguei a um ponto que estava de tal maneira envolvida que começava a ficar viciada. Já me revoltei muitas vezes também, já tive vontade de apagar tudo, de esquecer algumas das coisas que aqui estão mas nunca fui capaz. Por muito más recordações que o sejam agora, todas elas já foram especiais. . .Uma vida nunca se pode apagar não é? Infelizmente, é certo. Há certas coisas que poderiam ser apagadas eternamente. Enfim, é nestas peque nas coisas que percebemos o quão vulneráveis somos, talvez a nossa vida não seja realmente nossa, talvez seja comandada por alguém superior mesmo que nós não nos apercebamos de tal facto. . Talvez nunca encontraremos respostas para tais perguntas. . Talvez seja melhor assim.
Hoje tive mesmo necessidade de vir aqui. Não consegui suportar tudo o que estava a sentir, precisava de o escrever, exteriorizar a minha raiva, a minha dor, a minha angústia da mesma maneira que sempre fiz.
Talvez ande demasiado ausente da vida daqueles que mais precisam de mim, não me consigo aperceber de que estão mal, que precisam do meu apoio, da minha ajuda . . Falho como filha, como amiga, como irmã. . Tudo.
Sempre me julguei uma pessoa forte. Capaz de suportar as maiores dificuldades, de enfrentar os meus problemas, de ajudar os que me rodeavam. . Sempre julguei que não era qualquer pessoa que me conseguiria deitar abaixo, que do alto da minha força quase nada me faria entrar na "fossa", por assim dizer. Ultimamente tenho-me apercebido exactamente do oposto. São mais os dias em que estou em baixo do que aqueles em que sou capaz de acordar e sorrir porque a vida é bela -.-
Não sei qual o porquê para que tal aconteça, talvez faça demasiados filmes acerca de assuntos, nos quais nem sequer devia pensar, talvez ande demasiado pessimista ou, talvez, apenas agora tenha começado a aperceber-me do que realmente é a vida.
Há certas coisas que até podem fugir do nosso controlo mas há uma que nem a pessoa mais forte será capaz de enfrentar: a morte. Já perdi muitas pessoas, todas as vezes que via partir alguém doía, cada uma à sua maneira, mas houve uma que me custou particularmente. . . A morte do meu avô. Foi sem dúvida a pessoa que mais me marcou, pelo que era, pelo que significava para mim. . . Por que é que temos que perder estas pessoas? Por que é que ele morreu? Por que é que ele não volta? Preciso tanto dele aqui! Das mãos calejadas dele quando me abraçava, quando me sentava no colo dele, quando me levava a passear. A voz dele, os gestos, o olhar *.* Herdei a cor dos olhos dele, só isso os torna especiais para mim. Nada me orgulha mais do que me dizerem "Tens os olhos do teu avô!". . Literalmente, claro. Queria tê-lo ao meu lado de novo, tal como há 10 anos o tinha. . Quantas vezes já desejei ir para junto dele mas sei que não seria a solução e que o iria deixar desiludido. Não quero isso, quero que ele tenha orgulho em mim, naquilo que sou, na pessoa que ele próprio ajudou a criar. Posso errar muitas vezes mas aqui prometo. . Avô, não te voltarei a desiludir x'D
Por muito que eu desejo o contrário, dentro de pouco tempo irei perder algumas das pessoas mais improtantes da minha vida. POR QUE É QUE TEM DE SER ASSIM? Se mais cedo ou mais tarde temos de perder as pessoas que amamos, por que é que elas têm que se atravessar no nosso caminho? Não seria muito mais fácil vivermos sozinhos? Ou, pelo menos, apenas peço para que eu desapareça antes delas. . .Não existe pior dor do que aquela que sentimos quando perdemos alguém que amamos, quando sentimos aquele vazio que nada nem ninguém consegue preencher e, por muito que o tempo passe, à feridas que nunca saram, há sentimentos que nunca mudam, há uma dor que nunca desaparece, há memórias que nunca se esquecem. .
Vai custar tanto olhar para trás, passar por aqueles sítios que tanto significado têm e já não podermos viver nada do que outrora vivemos. Por momentos, como que em pequenos flashes, vão passar'nos pela cabeça todas as gargalhadas, todas as histórias, todas as aventuras, todos os momentos bons e até os maus, nos quais ficavamos horas a dar conselhos, muitas das vezes sem sentido nenhum, ou até bastava ficarmos em silêncio para que o outro sentisse que estavamos ali, para tudo o que fosse preciso. Como nos iremos sentir? Saudades por o termos vivido? Sofrimento por não o voltarmos a ter? Grrrr. Por vezes chego a pensar se haverá alguma razão suficientemente forte para que possamos viver.
Há uns dias, deparei-me com uma situação estranha. Eutanásia. Nunca tinha pensado sequer neste assunto. . . Quer dizer, sabia o que era, algumas das razões que levavam a tais pedidos desesperados de morte. Chegava a estar de acordo com tais actos, achava-me capaz de 'ajudar a morrer' desde que a razão fosse acabar com o sofrimento. Simplesmnte nunca tinha colocado a questão da maneira que eu vi. . . A situação consistia no facto de um casal, que era muito apaixonado, tinha tudo para ser feliz. De um momento para o outro ela perde o bebé de que estava à espera, ele tem um acidente e sabe que vai ficar imobilizado para o resto da vida. Com o passar do tempo, além de nunca mais poder andar, iria precisar de ajuda para respirar ou seja, tornar-se-ia um "corpo morto". Ele, pediu-lhe para o ajudar a acabar com aquele sofrimento, para o esquecer e se afastar da vida dele porque não tinha o direito de a prender a alguém assim, incapaz de a fazer feliz, de lhe dar aquilo com que ela havia sonhado. . . Se o amava tanto como dizia, teria de lhe fazer aquele vontade pois era o seu maior desejo, morrer. Ao início, ela dizia que não conseguia fazer o que ele lhe estava a pedir mas, ao contrário do que eu esperava, ela cumpriu o desejo dele. Retirou-lhe a máscara de oxigénio e ficou ali, a vê-lo morrer enquanto ele lhe pedia para não chorar, queria apenas ver o sorriso dela para poder levar consigo essa imagem.








Por muito que eu tente não me consigo imaginar em tal situação. De uma coisa tenho a certeza, não o conseguiria fazer. . . Nunca iria suportar a ausência física dele, ajudá-lo a morrer seria como que uma desistência da sua própria vida. . Poderia até estar a ser egoísta, a pensar apenas nos meus sentimentos mas, na verdade iria estar sempre a cometer um crime, estaria a matar a pessoa que amo. Isso custaria mais do que vê-lo daquela maneira. . Não estaria a perder a minha vida, não estaria presa a alguém que não conseguiria concretzar todos os meus sonhos. . Talvez por que ele era a minha vida e todos os meus sonhos passavam por ele, por estar junto dele! Por que o amor que sentia iria ser maior que tudo o resto e seria capaz de tornar aqele sofrimento menor. . Nunca o iria abandonar! [Por isto te pedi para que nunca fizesses aquele pedido. .]
Assim que for possível, colocarei a última parte da série.
Não consigo escrever mais por agora sobre este assunto.


O texto não possui título pois não consegui encontrar nenhum que se justificasse ao ponto de o publicar. Fica assim por enquanto.

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