segunda-feira, 2 de junho de 2008

O Tempo

Por vezes gostava de ter um poder oculto. Algo de sobrenatural que me fizesse sentir capaz de realizar algo de extraordinário.
Pensei muito sobre este meu sonho e cheguei à conclusão que gostaria de fazer parar o tempo. Comecei a imaginar como seria caso eu fosse digna de tal capacidade... Imaginei como seria poder controlar tudo à minha volta, como seria se num simples estalar de dedos todos os relógios parassem. Poderia percorrer o Mundo como se fosse só meu, poderia ver tudo o que nunca tive oportunidade e tempo de ver. Poderia ser feliz sem magoar aqueles que me rodeiam...
De repente, dei por mim mergulhada em tais pensamentos que quase que comecei a acreditar se tal não seria verdade. Decidi experimentar, olhei então para o meu relógio lá bem escondido ao fundo do quarto. Acho que nunca olhei para ele com tanta atenção, só nessa altura percebi como era bonito, como três simples ponteiros podem guiar a nossa vida. Peguei nele e parei-o! Por momentos tive a sensação de fazer parar o tempo, tal como eu sonhei...
Por muito que eu tivesse desejado aquele instante, não gostei da sensação. Coloquei o relógio a trabalhar de novo e aqueles pequenos ponteiros voltaram a mover-se, lentamente tal como sempre o fizeram. Todos aqueles segundos e minutos pareciam escapar-me das mãos, via a minha vida a passar lentamente, via o meu tempo escassear sem nada poder fazer para o impedir. Bem, talvez eu não quisesse fazer nada para o impedir. Não estava a perder tempo, pensava eu, estava apenas a ver o quão vulnerável está a minha vida ao ponto de preferir ficar parada a olhar para um relógio contando os segundinhos que passam, do que vivê-la tal como toda a gente.
Senti-me bem a olhar para eles e, quando olhei para o telemóvel, reparei em algo curioso... Havia uma diferença de 2 minutos entre ambos. Insignificante, diriam vocês, mas para mim não o foi. Talve seja este o segredo, cada um sincroniza o seu relógio de acordo com a sua vida, cada um tem o seu "tempo".
Aquele era o meu tempo. Uns escassos dois minutos que poderiam, quem sabe, mudar a minha vida para sempre. Mesmo assim continuava sem perceber o porquê de o meu telemóvel me querer atirar dois minutos para o futuro. Não gosto do futuro e talvez isto me tivesse levado a ignorar aquele objecto. Preferi centrar-me apenas no pequeno relógio...
Hoje gostava de ter tido esse dom de parar aqueles ponteiros que teimam em não fazer uma breve pausa. Fui abaixo, completamente. Não sei o que se passou comigo mas talvez o melhor seja nem tentar compreender.
Talvez o tempo exista para isto mesmo.
Talvez o tempo exista para que não tenhamos tempo.
Talvez o tempo exista para que nós não sejamos capazes de pensar nas nossas decisões.
Talvez o tempo insista em não parar para que o sofrimento seja mais pequeno e para que tudo passe mais rápido.
Hoje, pela primeira vez, percebi porque é que sinto orgulho cada vez que olho para o meu pequeno relógio que me deixa viver mais dois minutos de um presente futuramente passado.
Sinto orgulho naqueles ponteiros pequeninos que giram sem parar.
Talvez porque o Mundo nunca será meu..
Talvez porque continuo a magoar incessantamente aqueles que me rodeiam.
Talvez tenha orgulho em tudo isto porque há coisas que não valem a pena ser admiradas com tempo.
Talvez porque eu travo diariamente uma luta contra o tempo e já tenho uma vantagem de dois minutos.
Talvez porque tudo isto seja apenas uma perda de tempo.


Apesar de tudo sinto-me privilegiada pois posso escolher entre o passado e o futuro.
Por agora, quero apenas viver o presente vivendo ao som do Tic-Tac daquele meu relógio ao fundo do quarto...

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