O tempo urge lá fora. A rapidez com que tudo passa por mim faz-me desejar nunca mais sair daqui. Gostava que tudo fosse assim, gostava que apenas fosse preciso estar sentada e olhar por umas sujas vidraças e observar o tempo a correr contra mim. Sinto-me como se fosse a caminhar para um futuro desconhecido no qual poderei ser feliz e encontrar a essência da vida ou então despenhar-me de uma vez. Por entre conversas alheias nesta sublime carruagem, na qual todas as restantes sete pessoas que me acompanham participam, eu limito-me a escrever mantendo-me à margem de tudo isto, fechada no meu mundinho e com um bloco ridículo na mão. Consigo aperceber-me da curiosidade de algumas destas pessoas ao tentarem perceber o que estarei eu aqui a escrevinhar e a olhar pela janela com tanta veemência. . . Enfim.
No meio de tudo isto tenho de frisar o sentimento, um tanto ou quanto claustrofóbico, no qual me vejo neste momento. O que para muitos poderia significar um belo pretexto para confraternizar e sentir o calor humano, para mim é como um espaço fechado, demasiadamente até, no qual me vejo obrigada a estar até chegar ao meu destino, o que não deve faltar muito, espero eu.
Não me identifico com estas pessoas, não faz parte do meu feitio estabelecer diálogo com qualquer desconhecido logo à primeira vista e por isso continuo aqui, sob o olhar atento de todas elas, mas simplesmente a fazer algo que me dá prazer: escrever.
Por esta altura o silêncio apoderou-se deste espaço o que o faz parecer ainda mais escuro e compenetrado do que há pouco. Não posso deixar de esboçar um sorriso ao vê-los dormitar (alguns de boca aberta, imagem pouco agradável :$), outros já acordados a conversarem sobre o seu tempo de juventude. . . É nestas alturas que páro para pensar e percebo o quão 'deprimente' será ser assim. Não quero que isto faça parte do meu futuro, não quero ter a idade deles e ter de viajar de comboio para reencontrar ocasionalmente amigos que já não via há anos, não quero estar com três camisolas, um casaco e um xaile e ainda queixar-me de que está frio quando lá fora estarão uns 20ºC, não quero ter de pedir ajuda para andar e sobretudo não quero vir a sentir dificuldade em escrever. Não! Isso nunca! No dia em que tiver dificuldade em escrever deixarei de ser feliz. . . E não me refiro a faltas de inspiração, isso é um caso aparte, mas sim a falta de capacidade física de libertar as minhas maiores alegrias, tristezas, desilusões, epifanias. . .Seria uma tortura. Poderia também citar o basquetebol, sem força também não conseguiria jogar, mas até este já passou para 3º prioridade na minha vida, a par do curso, neste momento.
Agora que parei, fiz uma breve leitura em tudo o que já escrevi e a pergunta impôs-se: o que é que me deu para escrever estas coisas a esta hora da manhã (7 e meia) e nestas condições? Estarei a ficar senil ou não teria mesmo mais nada para fazer? Talvez seja porque, por muito inacreditável que o seja, quando vinha a observar os campos pelos quais passava, lembrei-me de diversos poemas de Alberto Caeiro, também ele amante da natureza e dos sentidos e, então, por que não tentar escrever algo do género? Quando olho para o resultado final denoto a ruralidade das minhas palavras em comparação às dele mas, pelo menos, a viagem passou muito mais depressa.
Termino por aqui. Mesmo que tenha entrado no campo da estupidez ao escrever isto e que tudo se resuma a uma simples perda de tempo. Irei continuar a ser 'maluquinha' para todas estas pessoas que me viram escrever a viagem toda mas quem sabe se um dia não as lerão quando forem publicadas :D Aahahahaha! Delírios.
Até sempre x_x
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